
Elmar Luiz Floss
Engenheiro agrônomo e licenciado em ciências, doutor em agronomia, professor e diretor do Instituto Incia – e-mail: elmar@incia.com.br
Um dos fatores mais importantes responsáveis pelo aumento do rendimento das culturas no Brasil foi a adoção, já em mais de 44 milhões de ha, do Sistema Plantio Direto na Palha – SPD. O SPD promove a redução da erosão do solo, aumento da infiltração de água da chuva, a redução da evaporação da água, reciclagem de nutrientes, ativação da vida biológica, redução do consumo de diesel (- 40 litros por ha), redução da mão-de-obra, dentre outras vantagens. No entanto, essas vantagens somente ocorrem quando a semeadura for realizada na palha.
A falta de cobertura do solo, observada em várias propriedades, e, responsável pelo problema de erosão ocorridas nessas propriedades nos últimos anos, tem vários motivos. Um deles é o uso indiscriminado da grade.
O arado e a grade, foram fundamentais para o desenvolvimento da agricultura até os anos 1970, sistema convencional de cultivo, quando, lentamente, começa a implantação do SPD. A gradagem era importante na sistematização de áreas, de destorroamento após aração, de nivelamento do solo, a incorporação de corretivos e herbicidas (pré-plantio incorporado), dentre outras práticas.
A grade ainda é necessária no preparo do solo de culturas implantadas pelo sistema convencional (ex. batata e outras hortaliças), no cultivo de arroz em terras baixas, na abertura de novas áreas e, eventualmente, na incorporação de corretivos.
No Sistema Plantio Direto na Palha, a mobilização de solo é desnecessária. O uso da grade se justifica em casos pontuais, como a sistematização de áreas novas ou incorporação de corretivos. Fora disso a grade deve ser dispensada. Ultimamente, o uso da grade vem aumentando no Sul do Brasil, em áreas de pousio, para controle de plantas daninhas (buva, capim amargoso, poaia, trapoeraba, dentre outras), devido aos altos custos dos herbicidas.
Não se justifica nem mesmo a semeadura a lanço de aveia, trigo e depois a incorporação pela grade. Essa operação deve ser realizada através do uso de semeadoras. Se o agricultor não tem, contrate o vizinho que tem, inclusive ociosas.
A grade é o equipamento que promove a maior desestruturação do solo, bem como a compactação sub-superficial (“formação do pé de grade”). Em consequência, predispõe o solo à erosão, quebra da estrutura do solo, acelera a degradação da matéria orgânica, reduz a CTC do solo, inibe o crescimento de raízes em profundidade, reduz a infiltração e armazenamento de água (menos microporos), reduz a aeração/oxigênio (menos macroporos), aumenta a evaporação da água e reduz a atividade microbiana benéfica, devido a maior aquecimento solo, reduz a atividade microbiana benéfica e promove uma compactação sub-superficia (“pé de grade”).
Pesquisas no Sul do Brasil, mostram, que uma passagem de grade pode reduzir em até 1% a matéria orgânica, cuja construção necessita de um aporte mínimo de 9 a 12 t ha-1 de palha por ano, durante 10 a 12 anos. Representa a perda da CTC do solo (70 a 90% das cargas dependem da matéria orgânica), a liberação na solução do solo de mais de K, de Ca e de Mg), a perda da capacidade de armazenamento de 223 mil litros de água por ha.
Por isso, a grade é usada na preparação de estradas para a pavimentação. A gradagem destrói completamente a estrutura do solo e o compacta, criando a condição ideal para a pavimentação. É, exatamente o contrário que precisamos no manejo adequado de solos, visando a obtenção de altos rendimentos das culturas.
Caso o solo esteja compactado (resistência a penetração maior que 2,5 ou 3 MPascal), deve ser realizada a escarificação (compactação a menos de 25 de profundidade) ou subsolagem (camada compactada a uma profundidade maior que 25 cm) e não a gradagem.
O uso do fogo é considerado crime pela legislação ambiental vigente, desde meados dos anos 1980. O uso indiscriminado da grade é pior que o fogo, pois além de destruir a palhada, como o fogo, também destrói a estrutura do solo. Essa prática indiscriminada, contraria toda a realidade da busca de uma agricultura regenerativa, agricultura conservacionista, agricultura de baixa carbono-ABC ou a busca de créditos de carbono. É inadmissível, que em plena era da Agricultura com precisão (Agricultura 5.0) e agricultura ESG, a prática da gradagem indiscriminada aumente. Inclusive, com financiamento da aquisição da grade através de crédito rural subsidiado, na linha ABC.

Figura 1 – Desagregação do solo pela grade em lavoura.
